Família de atirador em escolas de Aracruz é simpatizante de ideais nazistas
As primeiras linhas de investigação da Polícia Civil sobre o ataque a duas escolas de Aracruz, no Espírito Santo, apontam que o atirador, um adolescente de 16 anos, e o pai dele, um policial militar capixaba, eram simpatizantes de ideias nazistas. No momento do atentado, inclusive, o atirador usava uma suástica presa à roupa. As apurações da corporação também já verificaram que o autor do ataque alegou ter sofrido bullying no período que estudou na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, a primeira a ser invadida.
Até o momento, quatro pessoas, sendo três professoras e uma aluna de 12 anos, já morreram. As informações foram repassadas na manhã desta segunda-feira (28) pelo delegado titular da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Aracruz, delegado André Jaretta, em coletiva à imprensa.
“Apesar do adolescente não se alongar muito (no depoimento), em uma análise preliminar constatamentos que eram simpatizantes de ideias nazistas. Mas isso ainda depende de uma investigação aprofundada”, declarou o delegado que chefia as invetigação do massacre, ao ser questionado por jornalistas sobre imagens que circulam, em redes sociais, de prints que seriam do Instagram do pai do atirador, fazendo a leitura de um livro sobre o nazismo. SEGUIR
Indagado sobre a participação do atirador em fóruns da deep web ou ação de outras pessoas no planejamento do atentado, o delegado ressaltou que o celular do atirador foi apreendido, com autorização judicial, para ser periciado. Até o momento, não há indícios do tipo. “Estamos buscando estender se tinha o apoio de outras pessoas, entender se ele acompanhava outras pessoas, se tinha alguma ligação (com grupos nazistas), mas ele disse que não”, informou Jaretta.
Bullying
Conforme o delegado, o menor também relatou ter sofrido bullying no período em que estudo na escola. Os fatos teriam ocorrido em 2019, segundo contou à polícia. “Alguns colegas teriam o chamado de apelidos e desde então ele passou a ter ideias e pensar sobre esse assunto, em cometer um atentado”, acrescentou o policial.
O atirador não deu detalhes sobre o que planejou, desde 2020, a nenhum familiar ou amigo, segundo a Polícia Civil. “Guardava essas informações para si e foi alimentando esse ódio. Ele fazia acompanhamento com psicologo, com um psiquiatra, tomava medicação, mas não se abria muito aos familiares”, complementou.
Estão previstos, para a tarde desta segunda-feira, depoimentos do pai e da mãe do atirador. O comando da Polícia Militar do Estado afirmou que a corregedoria da corporação abriu, nesta segunda, um procedimento administrativo para investigar uma possível influência do pai no ataque cometido pelo filho. O homem, que é tenente da PM, foi afastado do serviço operacional e cumpre apenas funções administrativas.
“Cabe esclarecer que ele não ficou dois anos treinando com a arma do pai. Ele as manuseava sempre que tinha oportunidade de ficar sozinho. Não temos conhecimento se ele dava tiros. Todavia a DHPP de Aracruz está atenta aos fatos e serpa rigorosa na análise dos fatos”, acrescentou o delegado.
O que sabemos sobre a ação do atirador?
Como o atirador agiu?
De acordo com o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo, coronel Márcio Celante, o atirador estava vestido com roupa camuflada e com uma máscara no rosto. O menor arrombou os cadeados para invadir as duas escolas.
De acordo com a Polícia Militar da região, o crime aconteceu por volta das 10h desta sexta-feira (25/11). Inicialmente, o atirador invadiu a escola Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e disparou contra professores que estavam na sala para os docentes. Na sequência, seguiu para uma escola particular, Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), e fez novos disparos contra os docentes e alunos.
Ele usou duas armas do pai, que é Policial Militar no Estado. Uma pistola.40, de uso em serviço, e um revólver calibre 38, comprada pelo agente de segurança para uso particular, mas que acabou sendo utilizada pelo adolescente. O adolescente relatou que dirigiu o carro do pai para ir às escolas e tampou a placa do veículo durante o ataque.
Com tranquilidade, ele deu detalhes de como agiu aos policiais e informou que a roupa utilizada por ele tinha um símbolo da suástica, que representa o nazismo, informou o delegado João Francisco Filho.
Quem participou da ação?
A PM trabalha com a informação de que houve mais de uma pessoa envolvida na ocorrência. Equipes da Polícia Civil atuam na investigação e vão periciar equipamentos eletrônicos do adolescente para verificar possíveis motivações. O ataque, segundo o superintendente de Polícia Civil da Regional Norte, delegado João Francisco Filho, estava sendo planejado há dois anos.
O adolescente era ex-aluno da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, onde permaneceu matriculado até junho.
Apreensão do atirador
À tarde, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), informou que o adolescente foi apreendido na casa dele. O menor estava em casa, quando foi localizado pelos agentes. A Polícia Civil destacou que a prisão foi possível pelo monitoramento de câmeras que possibilitaram chegar ao destino final.
Aulas suspensas
Em nota, a Prefeitura de Aracruz, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), informou que não há vítimas entre alunos e funcionários da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Coqueiral, que fica localizada ao lado de onde ocorreu o fato. Todos estão seguros e sendo assistidos pela prefeitura.
Já a direção do Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC) emitiu nota afirmando que lamenta “profundamente o grave incidente”. “Nos solidarizamos com todos os que passaram por esse momento de extremo horror, incluindo nossos alunos, nossas equipes e seus respectivos familiares”, diz o texto.
A instituição afirma que busca entender a extensão do ataque que vai deixar “mais profundas”. “Contamos com a eficiência das forças policiais para que os responsáveis por esse ataque sejam presos e respondam por seus atos”, finaliza a nota.
Quem são as vítimas?
A Secretaria de Estado de Saúde do Espírito identificou três professoras que morreram. Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos, lecionava matemática, Maria Da Penha Pereira De Melo Banhos, de 48, professora de arte e Flávia Amboss Merçon Leonardo, de 38, professora de sociologia.. As docentes trabalhavam na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti.
A outra vítima, de 12 anos, é aluna do Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC) e não teve a identidade revelada. Outras seis vítimas baleadas estão internadas em estado grave. Um menino de 11 anos e uma adolescente de 14 estão em estado gravíssimo com perfurações na região abdominal e no crânio. Outras duas professoras estão em estado grave e foram submetidas a cirurgias.
Há ainda uma terceira vítima hospitalizada, com perfurações nos membros inferiores. Conforme a pasta, ela realiza exames laboratoriais e de imagem.
Repercussão
O governador Renato Casagrande decretou luto oficial de três dias no Estado. “Decretei luto oficial de três dias em sinal de pesar pelas perdas irreparáveis. Continuaremos apurando as motivações e, em breve, teremos novos esclarecimentos”, publicou no Twitter.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou o atentado como “tragédia absurda”. “Com tristeza soube do ataque as escolas de Aracruz, Espírito Santo. Minha solidariedade aos familiares das vítimas dessa tragédia absurda. E meu apoio ao governador @Casagrande_ES na apuração do caso e amparo para as comunidades das duas escolas atingidas”, disse Lula.
FONTE: O TEMPO